terça-feira, 2 de junho de 2009

“Há públicos, não há é grandes públicos”

Foto: Cláudia Carvalho

“Um país culturalmente forte tem mais hipóteses de se afirmar”. Esta é a convicção de Rui Madeira, actor e, agora, administrador executivo do Theatro Circo, em Braga.
Mesmo antes de partir para o Brasil com a peça “Os Bacantes”, Rui Madeira falou sobre a importância que é prestada à cultura, no distrito de Braga e em Portugal.
Quando referido o tema da adesão dos públicos às actividades das casas de espectáculos, Rui Madeira é peremptório: “vem a gente que quer vir”. Relacionando a predisposição dos portugueses para assistir a um espectáculo com o investimento feito pelo Estado na Cultura, Madeira afirmou ainda: “Um país que tem vindo a desinvestir sucessivamente na Cultura não pode pretender ter muita gente a servir-se culturalmente. Um país que disponibiliza menos de 0,2 por cento do Orçamento de Estado para a cultura, não pode ter a veleidade de depois querer comparar-se à Alemanha, à Itália, ou à França, que têm uma Cultura completamente diferenciada, para melhor”.
Rui Madeira mostra-se, por isso a favor, de uma “educação para a cultura” com o objectivo de atrair mais jovens e mais pessoas às casas de espectáculos, à semelhança do que acontece noutros países da Europa. No entanto “se perguntarmos na Universidade do Minho quantos alunos têm hábitos culturais, os hábitos culturais são beber cerveja, isso também é um acto cultural e ouvir Quim Barreiros também é um acto cultural, o problema não está aí”, afirma Rui Madeira. Para o director artístico “o problema está no país que está completamente desestruturado deste ponto de vista e as pessoas não têm capacidade para ver um universo mais abrangente que deve ser a actividade artística do país”.
“As pessoas aqui preferem gastar dinheiro noutras coisas em vez de comprarem um bilhete para vir, por exemplo, ao Theatro Circo”, explicou.
O preço dos bilhetes nas casas de espectáculos é um dos obstáculos apontados por muitos portugueses para poderem visitar com frequência os espaços, mas Rui Madeira contraria esta “desculpa”.“Dez euros é caro por um bilhete? Não é caro tendo em conta o custa um espectáculo. Gastam isso numa noite a beber cerveja, ou a fazer outra coisa”. Para Madeira o problema não reside no custo do bilhete, mas sim se “a pessoa está interessada, ou não, no espectáculo”.
Descontente por, em sondagens realizadas pelo Theatro Circo, muitas pessoas de Braga terem confessado nunca terem estado naquele espaço cultural, o também actor, foi categórico: “a culpa não é das casas de espectáculos, nem dos seus programadores”. “Os públicos preocupam-me e trabalho na justa medida das minhas responsabilidades para resolver essa situação, mas não sou responsável por eles, acho que isso é um problema de cidadania, que devia preocupar os cidadãos no acto de votar, por exemplo, mas a Cultura não faz parte das preocupações deste povo”, lamenta.
Assim, de acordo com Rui Madeira, “cabe ao país criar canais para resolução destes problemas”, porque “há públicos, não há é grandes públicos, mas isso acontece aqui, como acontece na Alemanha”, concluiu.


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